segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Tédio

Entedia a razão do valor dado
Às coisas realmente sem valor,
Por bem consideradas, num pendor
Absurdo, tolo, falso e equivocado.

Se por bem, se por mal se mostre o fado
A quem ódio cultiva, a quem amor
Prodigaliza, dê-se como for,
Não se odeia quem nunca tenha amado.

Há tantos, que amor chamam à luxúria;
Tantos há, que de justo ao criminoso
Chamam, numa crescente sempre fúria;

Há quem fuja do zelo, mas cioso
Pintar tente ao direito cor espúria;
Além de entediante, é mentiroso.

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Pouco

Saberes elevados a favor, a fim,
Dela, diplomacia, do elevado siso
Querida e respeitada, o ornamento, o friso,
Do elevado saber, do cultivado, enfim,

Permitam que, a partir de agora, diga assim,
Sem ser eu diplomático direi, e aviso,
Também ser diplomático não é preciso,
E o verdadeiro não e o mentiroso sim?

A política esconde cheio o prato rico
A quem trabalha o dia para não ter fome
Todos os dias cheio por o pouco pouco

Permanecer a ser, e o mundo é belo e enorme,
Mas não pode ser seu, e verá, quase louco,
Que guerra é só política com outro nome.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

ADN

A miséria é, talvez, a mais poderosa das amarras.
(Balzac)



Ácido desoxirribonucleico é nossa receita,
É nossa receita vulgar, perfeita, sempre imperfeita,
É nossa receita formada pelos ingredientes
De que nos formamos, perfeitamente chãos e doentes,
E perfeitamente sãos e atrevidos, cor e matiz,
Conquanto sejamos vários e vários somos sutis
Variações sempre completamente fúteis, mas mortos
Somos utilíssimos para os vermes, os seus repastos,
Quando já nenhuma filosofia há para ser feita,
E não há quantias para a despesa ou para a receita.

quarta-feira, 8 de abril de 2015

Quisto

Tudo terminou, se se deu começo, ao fim de tudo,
Tudo começou para haver um termo gélido, agudo.
Aguça-o o tédio, aguça-o o tempo, o sonho repleto
De esperança aguça-o. Perfurar-me-á em meu leito.
Cheio de paixões vivi, vazio delas a vida acabe,
Prefiro não ter o que desejei, que foi que me coube.
Fui quem redigiu, às pressas, a prece sem eloquência,
Eu compareci onde quista tanto foi minha ausência,
Comportei-me mal em público, fui mau, um porco imundo,
E não quis chorar por mim, mas sorrir, fingir que sou tudo.