quarta-feira, 27 de março de 2013

O sorriso só

Num sorriso mostrou o fio dos dentes
Da menina sentada só na guia.
Só na guia sentada ela sorria,
E sorriam, também, e tão brilhantes

Os seus olhos ciganos, e contentes,
A planejar maldades. Dia a dia,
Só na guia sentada prosseguia.
Seus poderes sorriam, e pungentes

Consequências calculam. Pobre dele
Que voltar o olhar, que descuidar,
Que apreciar meninas nas calçadas,

A sós, nas guias, doidas e malvadas,
A esperar, a fingir, a simular...
O predador em falsa, falsa pele.

sábado, 23 de março de 2013

Aborto



Quem sabe dizer
Ao meu entender
Que quero saber
Dizer, 'é mentira'?

Mentira que atalha
A verdade; valha
Doída navalha
A sangrar calotes.

Se o souber, avise
O próprio Diabo.

quinta-feira, 21 de março de 2013

Com amor dedico

Com amor dedico o ódio
Das palavras desgraçadas
Da sujeira desta boca
Que lhe fala (uma cloaca).

Com amor dedico o ódio
Do passar do tempo a ser
Ordinário nessa vida
De ninguém de repetida.

Com amor dedico o ódio
Do trabalho sem salário
Do sossego (ou da preguiça),
Da ideia sem premissa.

Com amor dedico o ódio
Da assunção imerecida
Da vadia ao Paraíso
(A serpente agita o guizo).

Com amor dedico o ódio
Do esplendor só das estrelas.
Tão gratuito quanto belo,
Cru, eterno, sem abalo.

Com amor dedico o ódio
Das suspeitas motivadas
Por razões imotivadas
Das pessoas paranoicas.

*

Com amor dedico o ódio
De sonhar parte do sonho,
Mas do sonho não ser parte,
Não ser todo, não ser arte.

Com amor dedico o ódio
Do suspense do passado
Que se não acontecesse
Talvez nunca regressasse.

Com amor dedico o ódio
Da demora do momento
Da derrota decisiva
Dessa espera corrosiva.

Com amor dedico o ódio
Da contínua oração
Aos descalços servidores
Que não passa dos pastores.

Com amor dedico o ódio
De cegar minhas pupilas
Com a brasa das auroras
Das --mil vezes-- mesmas horas.

Se existiu um porco pérfido,
Certamente não fui eu.
Se o quiser, é todo seu,
Com amor dedico,
                                 Ódio

quinta-feira, 14 de março de 2013

Apague todas as lembranças


 Um soneto muito antigo. Achei em uma pen drive, aqui...



Apague todas as lembranças
(Essas lembranças desastrosas);
Perdidas são as esperanças
(São prostitutas mentirosas).

Aguardo minha condução
Porque me resta, é, aguardar;
Porque não faço mais questão
Alguma, não, de demorar.

Risquei a giz, no chão, seu nome...
Um nome lindo pareceu-me
E, desde o chão, chegou-me ao peito.

Apesar disso vou-me embora
Porque meu peito exclama agora:
--Não risque mais, eu não aceito!

segunda-feira, 11 de março de 2013

Saídas - 9

- Cara, tens certeza de que fazemos certo? Parece-me estranho...

- Acalma-te. Um pato disse tudo o que precisamos construir.

- Esse pato tinha a cabeça verde ou vermelha?

- Vermelha.

- Merda!

sábado, 9 de março de 2013

Saídas - 8

Os subúrbios dos Estados Unidos têm várias personagens típicas.

Esta mãe que prepara uma torta de maçã, por exemplo. Logo seu filho entrará; e interrompê-la-á:

- Oi. >snif< >snif<. Sloth gosta Babe Ruth. Sloth gosta de torta de maçã.

Ela volta ao que fazia antes...

- Sabe que não conheço os lugares de onde tira essas coisas estranhas.

- Porque é uma padawan indisciplinada.

- E todas as vezes que eu aviso de novo continua até eu estar irritada.

- Tudo bem (desde que a irritação não a faça pedir para eu lavar a louça depois de comer a minha preciosa).

- A louça é sua.

- Odeio lavar a louça...

- Alguém gosta?

- Você.

- Eu só lavo porque é necessário. Ou compramos outras panelas, formas e talheres todas as vezes que o Sloth quiser comer o precioso padawan.

- Ao contrário. Gosta, sim. Posso provar o que digo.

- Ilumine-me.

Ele hesita... As órbitas querem ler algo interessante nas retinas, mas não podem...

- Bom, quem falou foi a empolgação... Mas garanto que eu levo a sério evitar aquilo que não gosto muitas vezes mais que você. Evidência disso é que enfrento as broncas, olhares, indiretas etc.; e, assim mesmo, continuo firme.

Uma gota de cinismo iniciou um sorriso em um canto de seus lábios.

A mãe para, e volta o corpo para a direção do filho. Ela adivinhou a expressão em seu rosto porque a viu uma ocasião ou outra.

- O quê; pensa que é o Calvin apenas por também falar sozinho?

- Ah! Agora a senhora sabe usar citações populares...