quinta-feira, 21 de março de 2013

Com amor dedico

Com amor dedico o ódio
Das palavras desgraçadas
Da sujeira desta boca
Que lhe fala (uma cloaca).

Com amor dedico o ódio
Do passar do tempo a ser
Ordinário nessa vida
De ninguém de repetida.

Com amor dedico o ódio
Do trabalho sem salário
Do sossego (ou da preguiça),
Da ideia sem premissa.

Com amor dedico o ódio
Da assunção imerecida
Da vadia ao Paraíso
(A serpente agita o guizo).

Com amor dedico o ódio
Do esplendor só das estrelas.
Tão gratuito quanto belo,
Cru, eterno, sem abalo.

Com amor dedico o ódio
Das suspeitas motivadas
Por razões imotivadas
Das pessoas paranoicas.

*

Com amor dedico o ódio
De sonhar parte do sonho,
Mas do sonho não ser parte,
Não ser todo, não ser arte.

Com amor dedico o ódio
Do suspense do passado
Que se não acontecesse
Talvez nunca regressasse.

Com amor dedico o ódio
Da demora do momento
Da derrota decisiva
Dessa espera corrosiva.

Com amor dedico o ódio
Da contínua oração
Aos descalços servidores
Que não passa dos pastores.

Com amor dedico o ódio
De cegar minhas pupilas
Com a brasa das auroras
Das --mil vezes-- mesmas horas.

Se existiu um porco pérfido,
Certamente não fui eu.
Se o quiser, é todo seu,
Com amor dedico,
                                 Ódio

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