Com amor dedico o ódio
Das palavras desgraçadas
Da sujeira desta boca
Que lhe fala (uma cloaca).
Com amor dedico o ódio
Do passar do tempo a ser
Ordinário nessa vida
De ninguém de repetida.
Com amor dedico o ódio
Do trabalho sem salário
Do sossego (ou da preguiça),
Da ideia sem premissa.
Com amor dedico o ódio
Da assunção imerecida
Da vadia ao Paraíso
(A serpente agita o guizo).
Com amor dedico o ódio
Do esplendor só das estrelas.
Tão gratuito quanto belo,
Cru, eterno, sem abalo.
Com amor dedico o ódio
Das suspeitas motivadas
Por razões imotivadas
Das pessoas paranoicas.
*
Com amor dedico o ódio
De sonhar parte do sonho,
Mas do sonho não ser parte,
Não ser todo, não ser arte.
Com amor dedico o ódio
Do suspense do passado
Que se não acontecesse
Talvez nunca regressasse.
Com amor dedico o ódio
Da demora do momento
Da derrota decisiva
Dessa espera corrosiva.
Com amor dedico o ódio
Da contínua oração
Aos descalços servidores
Que não passa dos pastores.
Com amor dedico o ódio
De cegar minhas pupilas
Com a brasa das auroras
Das --mil vezes-- mesmas horas.
Se existiu um porco pérfido,
Certamente não fui eu.
Se o quiser, é todo seu,
Com amor dedico,
Ódio
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