sexta-feira, 27 de janeiro de 2017
Work in progress - semana 2
Despe-se e deita-se e dorme e delira e depois desespera-se,
Vão coração, coração vão, a quem pega da mão?
Sonha, e sonhar é um risco e um tormento insensível que sente,
Vão coração, coração só, inventou a moléstia,
Sofre-a, vinga-a e volta a sofrê-la por tê-la vingado,
Vão coração, coração mísero, pródigo, sôfrego,
Calmo, inconstante em resumo, em resumo, infeliz e contente,
Vão coração, bom e mau, mal de si próprio tão bem,
Hábil também em falhar, excelente inexperto, tão tolo,
Quanto mais tempo viver, mais sofrerá, coração.
Vai novamente viver sem temer porque teme e declara,
"Nova desdita virá! Nova e pior!", conjectura,
Sem conhecer da matéria, suspeita, deduz e, portanto,
Sobre o alagado constrói, sem fundamento maldiz,
Nada do mundo conhece e leciona aos mais tolos ainda,
Não nasceu sob nosso céu homem capaz de entender
Sobre por que é ciclópica sua ignorância da vida,
Cobre-se a essência de ser, cio perene da essência
Pura por que está disposta essa vida ignorada e ignorante,
Sempre fadado a morrer, bicho perdido a sofrer.
Noite quieta, aquieta um momento o tormento da vida.
Quebre o silêncio, trovão, turbe-se um tanto a audição,
Turbe-se um tanto no peito o partido e vazio coração.
Noite inquieta já é; loa quer, quer rapapé.
Ouve-se novo barulho e desperta-se súbito. Pronto
Surge, e consegue ser bom. Soa agradável seu som.
Há de fluir por tristeza o seu pranto, mas lágrimas secam.
Há de acender nova luz, júbilo novo em seus olhos
Para aquecê-la em seu peito de novo.
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